O recrutamento de 1000 novos
inspectores do fisco, inicialmente previsto para 2013 e adiado para o início deste
ano, continua por concluir. A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) está desde
o final do ano passado a analisar reclamações dos candidatos, que fizeram os
exames em Novembro. Têm sido levantadas dúvidas em relação ao processo, relacionadas
nomeadamente com erros nas provas e os requisitos de admissibilidade ao
concurso.
Este reforço foi uma medida exigida pela
troika e,
no relatório da Comissão Europeia das oitava e nona avaliações ao programa de
ajustamento, estabelecia-se como prazo para conclusão o final de 2013,
alertando- se já nessa altura para “atrasos nos objectivos de aumento do número
de inspectores”. No Orçamento do Estado para 2014, que já era conhecido quando
Bruxelas deixou esse aviso, o Governo previa ter o processo concluído no início
deste ano.
A AT abriu o concurso ainda em Novembro
de 2012 para preencher 900 vagas nas áreas de economia, gestão, contabilidade e
auditoria, 80 de informática e 20 de estatística, prevendo um período de um ano
de estágio. As provas de admissão aconteceram um ano depois, entre 23 e 30 de
Novembro do ano passado. O fisco tinha, no máximo, dez dias úteis para publicar
as classificações preliminares, mas fê-lo em apenas dois. Desde esse dia, os
candidatos não receberam novas informações.
O regulamento previa dez dias úteis para
a apresentação de reclamações (ou seja, até 17 de Dezembro). A partir daí,
iniciou-se a análise das alegações, processo que o Ministério das Finanças diz
ainda estar a decorrer. Através do gabinete de imprensa, a tutela respondeu apenas
que as reclamações em causa são de ordem técnica e administrativa, mas não
concretizou o seu teor. Também não esclareceu o número exacto de reclamações,
limitando- se a garantir que a AT recebeu “menos de uma centena”.
À Associação dos Profissionais da Inspecção
Tributária (APIT) têm chegado dúvidas e pedidos de informação, referiu o
presidente, Nuno Bar roso, que preferiu não dar pormenores sobre a natureza
destes contactos. Num blogue dirigido a inspectores tributários, têm-se
igualmente acumulado comentários sobre o concurso. Há candidatos que se
interrogam sobre a demora na publicação da lista de classificação definitiva,
que só será conhecida quando terminar o processo de análise das reclamações.
Uma
das questões diz respeito à admissibilidade dos candidatos, visto que o
concurso é destinado a funcionários públicos com contrato por tempo
indeterminado. Aliás, para serem admitidos, tinham de assinar uma declaração,
sob compromisso de honra, a atestar o vínculo ao Estado. Mas, de acordo com as
regras, a verificação destas declarações só acontece numa última fase, depois
de publicada a lista final de classificações. Só nessa altura é que “os
candidatos que não comprovem reunir este requisito serão retirados da lista”,
explicou o Ministério das Finanças. A dúvida é se houve inscrições de pessoas
que trabalham para o Estado, mas que estão a prazo ou com contratos individuais
de trabalho (o que não as equipara a funcionários públicos).
Incorrecções no enunciado
O PÚBLICO comprovou que existem dois
erros no enunciado de uma das versões da prova realizada a 30 de Novembro pelos
candidatos a inspectores do ramo de economia, gestão ou contabilidade e
auditoria. Em causa está a questão número três, onde a resposta B está
repetida, tendo sido “colada” à parte final da resposta A, que era a correcta.
Um dos inscritos contou ao PÚBLICO que
o aviso para ignorarem a segunda parte da resposta só aconteceu perto do fi nal
do exame, “a menos de meia hora do fi m”. A prova teve a duração de duas horas
e 15 minutos. E, nas folhas de respostas, não era possível rasurar, utilizar
corrector ou escrever qualquer outro símbolo que não fosse um X. Ou seja, os
candidatos que eventualmente se enganaram por causa da repetição de respostas já
não puderam voltar atrás.
Há ainda outra incorrecção na pergunta nove:
o código da conta relativo a depreciações de equipamento administrativo está
errado (deveria ser 435 e foi identificado como 434). O PÚBLICO não conseguiu
apurar se erros idênticos ocorreram noutras versões da prova e nos exames das outras
áreas funcionais.
Se a AT considerar válidas eventuais reclamações
relacionadas com estes casos, as classificações poderão ter de ser revistas.
Questionado sobre a possibilidade de as provas serem repetidas, as Finanças
adiantaram que “nada aponta ou indicia para a realização de novos exames”.
De acordo com a lista preliminar de
classificação, o número de candidatos aprovados ficou aquém dos 1000 novos
inspectores que se pretende recrutar. A tutela de Maria Luís Albuquerque
explicou que, como o processo de selecção ainda não chegou ao fim, “não é
possível afirmar da existência, ou não, de vagas” que justifiquem a abertura de
um novo concurso, seja interno ou externo.
A APIT reuniu-se em Outubro com a
ministra das Finanças e com o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo
Núncio, que transmitiram “o interesse em ver os inspectores a entrar no
primeiro trimestre”, disse o presidente da associação. No entanto, Nuno Barroso
acredita que tal só será possível “no final de Abril ou em Maio”. O relatório
de Bruxelas sobre a décima avaliação, conhecido na quinta-feira, já admitia que
os inspectores só venham a estar no terreno nos “próximos meses”. Questionado sobre
o calendário previsto, o ministério não respondeu.
FONTE:
Publico