quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O multiplicador fiscal


Como regra, tem-se recorrido aos planos de austeridade. E da regra nasceu a dúvida: se o défice orçamental (x) for alterado, qual é o impacto no PIB (y)? Dito de outro modo: qual é o multiplicador (k) que se aplica a "x" para atingir "y"?
O multiplicador fiscal é então o valor que reflecte a variação no PIB resultante da variação no défice orçamental. Por exemplo: se o multiplicador for de 1,5, por cada euro de cortes na despesa o produto cai 1,5; mas se o multiplicador for de 0,5, o mesmo corte na despesa leva a uma redução no produto de apenas 50 cêntimos. Logo, o impacto no PIB pode ser positivo ou negativo, consoante o multiplicador. E ele assume particular relevância em situações de crise grave, como a que actualmente se vive na Europa.
Estimativas levadas a cabo por muitos e qualificados economistas sobre a realidade de 2010 deram resultados para todos os gostos. Houve quem dissesse que a consolidação fiscal fazia aumentar o produto, um pouco na lógica da ‘troika' que nos controla. Houve quem reagisse com indiferença, porque o multiplicador tenderia para 1. E houve uma equipa do FMI que aprofundou o tema até à exaustão e concluiu por um multiplicador de 0,5: por cada euro de corte no défice, o PIB caía 50 cêntimos. A situação não era grave.
Mas eis que, de repente, com o agudizar da crise, tudo se alterou. No seu último relatório trimestral, o FMI assumia sem reservas que, no actual quadro recessivo, o multiplicador fiscal se situa algures entre 0,9 a 1,7, em vez do 0,5 que calculara anteriormente. Dito de outro modo: os brutais planos de austeridade que estão em curso não melhoram, antes agravam o estado da economia. É verdade que na Europa se discorda desta leitura, a meu ver sem razão, mas disso falarei numa próxima oportunidade.

Breves cálculos para 3 cenários do multiplicador e respetivos impactos no PIB:

No Relatório do OE para 2013 o Governo perspetiva o seguinte cenário macroeconómico:

Vê-se desta forma o otimismo do governo nas projeções.
Se analisarmos o documento, diria até que não se trata de uma questão de otimismo mas de Fé.

 “Em termos trimestrais, o PIB deverá começar a crescer já a partir do segundo trimestre de 2013. A evolução da atividade económica continuará a traduzir as características do ajustamento da economia portuguesa verificadas em anos anteriores, isto é, a procura interna terá um contributo negativo para o produto, embora menor do que em 2011 e 2012.”

Com o agravamento brutal da carga fiscal, para 2013, ao qual irá acrescer o corte de mais 4.000 M€ o consumo privado irá ter uma evolução positiva em 2013 face a 2012 de 3.7% (-5,9 vs -2.2)

Foi com igual fé e convicção que em Abril  no documento de estratégia  orçamental 2012-2016 apresentavam o seguinte cenário:

Terei de acender uma vela e partilhar da mesma Fé ?

Assim não vamos lá...



1 comentário:

  1. Gostaria de saber se já sairam as listas de candidatos admitidos ao concuso para inspetor tributario( 1000 vagas)?Grata

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