quarta-feira, 20 de maio de 2009

Estado perde 800 milhões com falência do BPP


O Governo deu o aval ao Banco Privado Português (BPP), mas as garantias pedidas à instituição não terão actualmente qualquer valor, soube o CM junto de fonte próxima do processo. Se a instituição falir, o Estado arrisca-se a perder perto de 800 milhões de euros.


Na prática, se o banco entrar em insolvência, será o Governo quem terá de assumir os 450 milhões de euros emprestados pelo BCP, BES, CGD, BPI, Totta e Crédito Agrícola, em Dezembro. E ficará na lista de credores, atrás do Citigroup, Fortis Bank, ABN Amro e HSBC que, segundo o ‘Diário Económico’, são credores com garantias reais das dívidas, que totalizam os 261 milhões de euros.


Ao valor do aval somam-se ainda os cerca de 350 milhões de euros em depósitos à ordem e a prazo que o Estado é obrigado a garantir. Ontem, ao final da tarde, a proposta do Banco de Portugal sobre o futuro do BPP ainda não tinha sido entregue ao primeiro-ministro, José Sócrates. Feitas as contas, cada português terá de contribuir com 80 euros para tapar o buraco financeiro da instituição anteriormente liderada por João Rendeiro.


De fora destas contas ficam os produtos de retorno absoluto, que absorvem mais de 1,2 mil milhões de euros de clientes do banco.


Ontem, a actual administração do banco, presidida por Adão da Fonseca, reuniu com três representantes do Movimento Retorno Absoluto. Sem avançar pormenores, Durval Padrão, porta-voz do grupo, assumiu que a proposta do conselho de administração passa por 'garantir o capital e os juros' prometidos aos clientes neste tipo de aplicações. 'Os clientes não vão ficar defraudados', assegurou o representante do movimento. Ao que o CM confirmou junto de fonte ligada ao processo, o dinheiro deverá ser devolvido aos clientes, na totalidade, num prazo de quatro anos, um período bem inferior aos dez anos definidos pelo BPP no plano entregue por Adão da Fonseca ao Banco de Portugal.


A posição da CMVM, que tem apoiado a defesa dos clientes, terá tido influência no encurtamento do prazo de reembolso. O Movimento Retorno Absoluto junta cerca de 450 clientes, com aplicações financeiras que se situam entre os 300 a 400 milhões de euros.


CONSTÂNCIO ENTREGOU PLANO AO MINISTRO


O Banco de Portugal, liderado por Vítor Constâncio, entregou ontem ao ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, o plano que determina o futuro do BPP. O parecer foi elaborado com a ajuda da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), mas o próprio Governo acompanhou de perto a proposta dos supervisores.


O Governo tem cinco dias úteis, cuja contagem se iniciou ontem, para proferir a decisão final: manter o BPP ou deixá-lo cair na falência. O primeiro-ministro José Sócrates recusou-se ontem a fazer comentários sobre o processo.



BOMBA-RELÓGIO DE RENDEIRO


Além das eventuais perdas para os cofres do Estado que a falência do BPP poderá originar, o Governo tem em mãos uma bomba-relógio deixada pela antiga gestão de João Rendeiro. Ao que o CM apurou, vence esta semana uma tranche do empréstimo concedido pelo Citibank, um dos gigantes da Banca norte-americana, ao BPP. A instituição terá de pagar 150 milhões de euros nos próximos dias.


O Citibank é apenas mais um na lista de credores do BPP. De acordo com o ‘Diário Económico’, além dos seis bancos que emprestaram os 450 milhões ao BPP, duas Caixas Agrícolas, do Bombarral e Leiria, tinham a receber mais de 17 milhões. Outros 7,3 milhões terão de ser pagos à Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo. O mesmo jornal avança ainda que no ano passado o BPP pagou cerca de 175 milhões de euros em créditos de curto prazo a bancos como o Royal Bank of Scotland, Merril Lynch, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Barclay e JP Morgan. De fora ficam bancos que financiaram offshores.

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